domingo, 9 de maio de 2021

Café

Hoje eu tomei café e senti enjoo. Ontem eu falei sobre um assunto que me causa desgosto, que é o quanto eu tenho visto gente mais nova do que eu se sentir seduzida por discursos de ódio. Existe uma correlação entre os assuntos. E, como quase todo texto desse blog, a correlação puxa um pouco de como foi minha vida entre meus 16 e 19 anos.

Nessa época, eu estava me preparando para tentar uma vaga em universidade, entre ensino médio e cursinho pré-vestibular. Também foi a época em que eu estive o mais perto possível do que outras pessoas poderiam chamar de busca por uma tribo. Nunca fiz parte de nenhum grupo como os roqueiros, os emos, os otakus, os atletas descolados ou qualquer outra expressão que possa ter saído de um romance infanto-juvenil americano mal traduzido. Mas eu queria descobrir do que eu gostava de verdade, quais eram minhas convicções políticas ou até mesmo religiosas e qual era minha turma. Sinto que me encontrei, mesmo que eu não use esses rótulos citados como referência. Mas sem dúvida essa é uma época não apenas decisiva como também perigosa pra adolescentes ou jovens adultos.

Na ânsia de procurar uma turma, alguns podem usar sua revolta e sentimentos negativos como motor, não para procurar soluções, e sim para encontrar outras pessoas com esses sentimentos. Se solidão fez parte da vida da pessoa, ela precisa tomar mais cuidado ainda. Da mesma forma que temos acesso a coisas incríveis na internet, somos expostos a pessoas perigosas, que podem querer fazer de nós meros recrutas pra uma massa de manobra de ideais autoritários e nojentos em todos os níveis. Nunca passei nem perto disso, felizmente. De todos os problemas que vivi nessa época, nenhum chegou a me aproximar dessas coisas, pro orgulho da minha família e pelo bem da integridade das pessoas que eu amo. Pena que nem todo jovem tem uma rede de apoio que o impeça de chegar a esse ponto.

Sobre problemas pelos quais passei nessa época em que eu queria me entender melhor, já comentei sobre vários aqui, menos o café. Desde pequeno eu convivi com o café, porque meu avô paterno, minha mãe e minha irmã sempre gostaram muito. Eu bebia de vez em quando mas nunca tinha feito disso um hábito, até o meu primeiro ano de cursinho, em que eu comia um pão na chapa e tomava um café todo dia de manhã nos intervalos da aula, com a Manii, nós dois sentados no muro do outro lado da rua, falando de Doctor Who e Sherlock Holmes. E por conta da proximidade com os vestibulares, eu passava muito estresse, que eu não conseguia evitar. E também mascava chiclete quase o dia inteiro, porque me ajudava a me concentrar. Obviamente passei a ter gastrite. Não ia conseguir largar o chiclete nem abrir mão do nervosismo. Por isso eu parei com o café. Depois disso, se tomei mais de 5 xícaras de café em um ano, foi muito.

Hoje eu tomei café e senti enjoo.

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