sexta-feira, 13 de abril de 2012

Desconstruído, não mexido

Esses dias a Netflix adicionou ao catálogo a série completa dos filmes do James Bond (só não conferi se colocaram Nunca Mais Outra Vez).



Como qualquer fã de verdade do 007, fiz questão de ver 3 no mesmo dia. Peguei 3 exemplos muito interessantes: O Satânico Dr. No (DN), Permissão Para Matar (LTK) e Cassino Royale (CR).

Em DN vemos aquilo que James Bond é o quase o tempo todo. O Bond Connery é racional, elegante focado no trabalho (com exceção da parte Stinsonística de não resistir a mulheres). Agora, em LTK, ele é diferente. Um traficante latino deixa seu bro Felix Leiter gravemente ferido e viúvo. As autoridades resolvem deixar por isso mesmo e James Bond sai em busca de vingança sem o aval do MI-6 e com sua permissão para matar cassada. Timothy Dalton interpreta um James Bond vingativo. E isso foi perfeito. Um vilão foi longe o suficiente para transformar o 007. Uma mudança plausível, interessante e bem executada.

Eis que vem CR.

Todo mundo ficou meio cabreiro quando foi anunciado que o novo James Bond ia ser o Daniel Craig. Onde já se viu um 007 loiro e fortão? Não faria sentido! Mas aí eu assisti CR e nem dei atenção ao fato de ele não ter o mesmo biótipo do personagem dos livros ou dos atores antecessores.

O que incomodou muitos fãs foram algumas características que mudaram no personagem: Ele corre que nem um macaco louco; ele não abre portas, apenas atravessa paredes; fica com vontade de vingar a morte da amada (no caso, Vesper Lynd); entre outras coisas e além.

Só que o que mais me agradou nesse filme foram essas mudanças. CR mostra a primeira missão de James Bond como um agente 00. Ele não é o James Bond que conhecemos, não age com a razão, esquece a elegância vez ou outra e coisas do tipo. O filme nem tem a abertura usual da gunbarrel da mesma maneira que os outros.

Só há um momento do filme em que é tocada a música tema clássica da série e é falado o bordão igualmente clássico de apresentação "Meu nome é Bond, James Bond" no filme todo.

Na última cena (é, tô nem aí se você viu o filme, vou mandar spoiler mesmo) 007 vai atrás do responsável por toda sua desgraça na trama. Nesse momento ele aparece num lugar extremamente quente vestindo um terno provavelmente quente. Quem liga? Ele não, ele está precocupado com elegência e não com conforto. Quando seu inimigo pergunta quem ele é, ele não hesita e se apresenta como James Bond faz.

O ponto é que no filme inteiro, ele não era o James Bond que conhecemos. Ele era só um cara qualquer que tinha recebido a promoção do MI6. Apenas depois de todas as experiências pelas quais passa durante o filme é que ele se torna o personagem que queríamos ver.

Assim como LTK, CR é um exemplo perfeito de desconstrução bem feita de um personagem. Tudo ali faz sentido. O filme não tem exageros, equilibra bem cenas de ação e cenas paradas, tem uma trama suficientemente simples de ser compreendida e suficientemente complexa para não parecer idiota.



É por isso que Cassino Royale é um dos meus filmes do 007 favoritos.