sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Capítulo Final

"Aquilo que era desconhecido será conhecido e o Armagedom será alcançado. E assim será o começo do fim.
As feras que estavam escondidas sob a terra se levantarão para tomar o mundo. As guerras estão no passado, no presente e no futuro. Houve e haverá grandes guerras, mas a Guerra do Fim será a maior de todas.
Todos os seres vivos lutarão contra as feras da destinação final. Nem todos os que tombarem terão merecido a morte, mas é sabido que apenas valorosos de coração sobreviverão.
Do pó a existência veio e ao pó ela retornará. A vida de todos esteve mergulhada na poeira e na lama, mas isso acabará. A Guerra do Final varrerá tudo que cobre o mundo. Todos os ramos que cobrirão a Terra serão queimados e lavados.

Assim será o final da Era da Terra.
Assim será o início da Era da Água e do Fogo.

Ouça o rugido do Leão" - O Livro de Fly, Capítulo Final

sábado, 18 de janeiro de 2014

Entre 5150

Esse texto não deve ter relação algum com nenhuma das outras coisas que eu já escrevi.
Era um fim de tarde ensolarado em uma cidade movimentada. Algumas pessoas comiam em uma lanchonete simples. A uma das mesas, sentavam um jovem já idoso e um idoso ainda jovem. O primeiro comia um sanduíche de inexistência e o segundo tomava um chá de orgulho. O idoso ainda jovem mexia seu chá para que o açúcar se misturasse ao líquido adequadamente e formava um redemoinho dentro da xícara.
Ciclos se repetem para sempre, mas não literalmente.
À mesa ao lado sentavam quatro moças: Morte, Riqueza, Sabedoria e Nami. Elas estavam jogando um jogo de baralho chamado bacará e as apostas estavam altas. A Morte apostava a existência, a Riqueza apostava a poeira em alto mar, a Sabedoria apostava as florestas de Marte e Nami apostava a tempestade de dentro da xícara do chá de orgulho.
É só quase para sempre.
Na xícara, o redemoinho ganhava força e um navio que tinha a própria Verdade como conteúdo navegava pelas águas tempestuosas. Em meio à crescente ventania, aviões sem seus pilotos voavam rumo à destruição.
Mais cedo ou mais tarde tudo chega a um fim
O jogo foi todo jogado errado e uma tigela de sagu que estava sobre uma terceira mesa tremia de medo. Não houve vencedores naquela partida, mas alguém certamente foi o perdedor.
Chega a um fim mas não deixa de existir.
Você, leitor, vai ter um sonho daqui a exatos 19 anos e 3 meses. O texto que você acabou de ler é livremente baseado nesse sonho. Aguarde a confirmação de seu cadastro na vida real e abrace a pessoa amada mais próxima de você.
Porque nada é esquecido.
Agora.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Os Guardiões da Morte

"Ouça o rugido do Leão.
Antes do início, já havia a morte. No início, a morte deveria ter sido destruída, mas foi guardada. Aqueles que salvaram a morte se esconderam sob o chão. Veio então o fogo e a luz, que colocaram tudo onde deveria estar e espalharam as raças e tribos pelo mundo. Depois do início, as tribos começaram a se unir e formar os reinos." - O Livro de Fly, capítulo 1

Era primavera e o dia tinha sido quente. A menina Kiva brincou com seus amigos pelas ruas de Perfeição, capital do reino de Sempremais, e já estava cansada ao fim da tarde. Depois de jantar e tomar um banho, ouvia as histórias que seu avô contava no seu quarto.

— ... E foi assim que Tauren resgatou a princesa do fabuloso Reino de Sup.
— Mas, vô, essa história eu já ouvi mil vezes! Conta alguma outra?
— Tudo bem... — O avô de Kiva coçava a própria barba tentando pensar em alguma história que já tivesse contado à neta há tanto tempo que ela deveria ter esquecido, mas não conseguiu pensar em nada. — Que história você quer ouvir?
— Não sei... — A expressão de dúvida de Kiva foi subitamente substituída por uma de euforia — Me conta sobre Os Mecânicos! Por favor! Conta, vai!

A princípio, o avô relutou em contar, mas sabia que a neta não desistiria dessa ideia tão cedo, então começou:

— Está certo. Saiba que essa é uma lenda muito antiga e eu nem imaginava que um dia você iria ouvir falar desse assunto —, disse o avô, enquanto se acomodava melhor na cama. — Dizem que antes do nosso surgimento, havia um povo que morava nesse mundo. Também dizem que quase tudo que eles tinham, suas tribos, seus reinos, suas memórias, quase tudo, foi destruído com o fogo do céu. E, você sabe, o fogo do céu foi o que nos colocou aqui. Luz e fogo, aquela história toda. Acontece que algumas pessoas do povo de antes do início se esconderam debaixo da terra pra tentar proteger suas coisas. A lenda diz que eles salvaram as máquinas. Essas máquinas-
— Vô, o que são máquinas? —, interrompeu Kiva.
— Imagine ferramentas. Existem várias ferramentas com inúmeras utilidades. — explicou o avô — Temos martelos, rodas, picaretas, pás, alavancas... Máquinas são coisas que misturam mais de uma ferramenta. Pode ser repetição da mesma ferramenta ou ter várias diferentes. Por exemplo, se você junta duas alavancas simples, você tem...
— Uma pinça? —, completou Kiva.
— Exatamente. E, se quiser, você pode juntar duas alavancas de um jeito um pouco diferente e uni-las a duas lâminas e você tem uma tesoura. Entendeu agora o que são máquinas?
— Sim, vovô. Agora continue falando dos Mecânicos, por favor.
— Certo... Os Mecânicos guardaram máquinas de antes do início, mas não eram máquinas comuns, como as que temos hoje. Eram muito mais complexas do que podemos imaginar. E eram feitas de luz e metal. Tinham luz dentro delas e precisavam de luz para funcionar.
— Mas o que faziam essas máquinas?
— Não sei, Kiva, mas sei que não devia ser coisa boa. Tanto que o pessoal das ilhas independentes chama Os Mecânicos de "Guardiões da Morte". Tudo que havia antes do início-
— ... era morte, blá, blá, blá... — interrompeu Kiva, novamente — Eu sei disso. Agora sei que eles moravam debaixo da terra também, mas... Ainda não sei onde fica essa terra em que eles se enterraram.
— Me diga uma coisa, Kiva, você sabe o que tem ao norte? E não, não estou me referindo ao Reino de Nuncamenos.
— As ilhas independentes? — Kiva pensou por mais alguns segundos — ... Já sei! O Mar da Morte?
— Não, Kiva. Mais acima.
— As Terras Proibidas! — respondeu Kiva com cara de espanto — É por isso que elas são proibidas?! Eu achava que lá tinha muitos monstros. Não sabia que era lá que moravam Os Mecânicos.
— Olha, na verdade, chamam de Terras Proibidas porque nenhum navegador nunca conseguiu chegar lá. Se alguém conseguiu, não voltou pra contar o que encontrou. Mas tem gente que acredita que é lá que vivem Os Mecânicos.

O avô não conseguiu conter um bocejo e percebeu que já estava ficando tarde.

— Kiva, o vovô já está ficando cansado e você precisa ir dormir. Sua mãe me falou que vai levar você para os campos amanhã e te ensinar a manejar o arco e flecha. Quem sabe você não entra para a Guarda Real quando crescer, igual a todas as mulheres da família?
— Vô, eu não quero ser da Guarda Real. —, respondeu Kiva, com empolgação — Eu quero ser uma exploradora! Quero atravessar os oceanos e ver os elfos. E eu também vou ser a primeira pessoa a navegar pelo Mar da Morte. Vou visitar as Terras Proibidas e depois voltar pra contar o que eu encontrei lá.
— Tudo bem, criança, mas saiba que se você quiser fazer tudo isso, vai precisar saber lutar pra derrotar qualquer monstro feroz que aparecer no seu caminho.... — disse o avô, querendo encontrar um forma de encerrar logo aquela conversa e ir dormir — E o mais importante: vai precisar estar descansada. Agora deite e feche os olhos.

O idoso beijou a neta na testa, apagou a lamparina e saiu do quarto. Kiva se deitou tentando pensar em todas as maravilhas que ainda poderiam ser descobertas. Naquela noite, sonhou com aventuras no continente dos Elfos, sonhou com os mistérios das Terras Proibidas e com as fabulosas máquinas de antes do início. A garota mal podia esperar para desbravar o mundo, conhecendo todas as realidades que eram lendárias e todas as lendas que eram reais.