domingo, 17 de novembro de 2013

Todos Precisavam de Sapatos / A Cura Foi A Morte / Prólogo (?)

Todas as pessoas precisavam de sapatos. A maioria das pessoas usava sapatos. Muitas pessoas ganhavam dinheiro com a produção e o comércio de sapatos. Alguns ganhavam menos, como, por exemplo, o vendedor, que buscava no estoque o par de calçados que o cliente queria experimentar. Outros ganhavam muito mais, como os grandes acionistas de marcas famosas de tênis.

Havia sapatos de ótima qualidade, que duravam por muito tempo, mas também havia sapatos que ficavam facilmente gastos. Quando os sapatos ficassem gastos, seria necessário comprar novos. Isso era o que as pessoas que usavam sapatos acabavam fazendo eventualmente. Compravam sapatos, faziam o dinheiro circular, usavam os sapatos até que esses ficassem velhos, compravam novos e faziam o dinheiro circular de novo.

Bombas não tinham nada a ver com sapatos. Se você usasse a bomba uma vez, ela já não serviria mais e você precisaria comprar uma nova. Era melhor vender bombas do que sapatos. Mesmo os sapatos mais simples demoravam mais para ser gastos do que a melhor das bombas. As pessoas gostavam de dinheiro e era exatamente por isso que gostavam da guerra. Só precisavam de um motivo - bom ou ruim - para iniciar uma nova guerra.

Guerra sempre teve vários significados, inclusive morte. Curiosamente, o motivo encontrado para que se iniciasse a pior de todas as guerras não tinha nada a ver com morte.

Havia pessoas que acreditavam que sua cultura fosse superior a outras, gerando sentimentos de xenofobia e outros tipos de preconceito. Entretanto, havia quem acreditasse na ideia de que não há cultura melhor do que outra e que um cientista da África Subsaariana ou um cientista da Ásia são tão capazes de realizar uma descoberta revolucionária quanto um pesquisador norte-americano. O segundo grupo estava certo.

No fim da primeira década do século XXI, um grupo de cientistas do Qatar - não dos Estados Unidos ou da Europa - desenvolveu um novo medicamento. Não se sabe ao certo o que ele tratava. Alguns diziam que ele curaria diversos tipos de câncer, outros diziam que ele curaria a AIDS e havia até quem se arriscasse a dizer que era a droga que acabaria com toda e qualquer enfermidade do mundo. Só se tem certeza de que a cura foi a morte. Era o motivo que procuravam.

A indústria bélica visava lucrar com a guerra de modo geral e as grandes corporações farmacêuticas temiam encontrar seu fim, por isso financiaram os conflitos.

Infelizmente, a tecnologia não tinha avançado o suficiente apenas para impulsionar o desenvolvimento de remédios poderosos, mas também para proporcionar a invenção de armas mais destrutivas. Destrutivas o bastante para mergulhar o mundo no caos completo. Não foi nada surpreendente. Nada diferente do que já havia sido imaginado em livros, filmes, histórias em quadrinhos e jogos eletrônicos.

A humanidade torcia para que o tempo lhe presenteasse com um bom futuro, mas no lugar disso, foi brindada com um previsível apocalipse.