sexta-feira, 9 de abril de 2021

Tudo que eu não sei

Eu pergunto. 

Meu primeiro contato com a internet foi no meio dos anos 90, privilégio de um menino de classe média que tinha aprendido a ler bem cedo. O primeiro site que eu visitei foi o da Turma da Mônica, assim como foi para a maioria das pessoas da minha geração. Além disso, minhas diversões na internet também envolviam me aventurar no falecido (?) Napster, ver Charges e jogar aqueles joguinhos em Flash. Também ficava pesquisando sobre filmes que eu gostava até quase desmaiar. Durante um bom tempo da minha infância e adolescência, meu uso do computador foi limitado, não por imposição dos meus pais mas sim porque minha irmã mais velha monopolizava um pouco as coisas. Pude passar mais tempo nisso aqui depois que ela entrou pra faculdade, coisa que pode não ter sido muito saudável para mim.

Tem muita coisa na internet que eu não entendo, como algumas piadas e alguns fenômenos. Demorei muitos anos para ver graça no vídeo do Mamute, por exemplo, e ainda não vi graça no Harlem Shake. Parte dessa cultura da qual eu invariavelmente faço parte, parece mais indecifrável para mim do que para amigos e colegas com quem ainda tenho contato. Por outro lado, umas piadas nonsense que faço também não são compreendidas por outras pessoas, então fica elas por elas. Seja lá quem forem elas, e seja lá quem forem elas.

Nesse mês, uns 9 anos atrás, eu estaria na 6ª hora na frente do computador, sentindo que estava perdendo parte do conhecimento acadêmico que eu deveria estar adquirindo para passar no vestibular. Hoje estou na minha 11ª hora na frente do computador, por causa de trabalho. Não tomei Sol na fronteira da Consolação com a Itália. Na época eu não conhecia parte dos meus amigos e não conhecia Phoenix.

A título de curiosidade, enquanto escrevo esse texto, estou com suspeita de dengue. Caso o Pedro do futuro se esqueça, eu registro aqui que é horrível. Fiz o exame hoje às 7 da manhã. Torçam para que seja só dengue mesmo.

Qualquer dúvida, só perguntar.


sábado, 3 de abril de 2021

Complexo de Messias

Aprendi a ler aos 4 anos, e por conta dessa habilidade, tive uma epifania interessante uma vez. Na situação em questão, eu me olhei no espelho e pude notar que minha camiseta (da Stereo Vale, rádio do interior de SP onde meu pai trabalhava) estava com os dizeres na estampa ao contrário. Fiquei fascinado por isso, tentei decifrar o que estava acontecendo ali. Finalmente entendi que o espelho invertia as figurar, e no processo de entender o conceito de figuras enantiomórficas, também me dei conta da minha própria existência como nunca antes tinha tomado consciência. E fui entendendo que tudo que eu fazia tinha consequências sobre o ambiente ao meu redor, e que tudo que acontecia no meu redor tinha consequências sobre mim. Claro, uma criança pequena ficaria assustada com esses pensamentos, e foi o meu caso. Em uma hipérbole para fins puramente dramáticos, eu poderia dizer que nunca mais na vida fiquei tranquilo. O que mais me incomodou, entretanto, foi uma possibilidade meio burra que me ocorreu: ninguém mais tinha essa percepção da vida. Arrogante, certo? Hoje eu sei que, apesar de muita gente só existir sem viver, a maioria das pessoas tem a mesma noção que eu tive naquele dia. Cada um descobre isso a sua própria maneira e em seu próprio tempo. Nem todo mundo tem responsabilidade sobre essa percepção. Caso contrário, o mundo seria um lugar muito mais tranquilo e todo conflito da ficção seria considerado puro absurdo.

Durante um período da minha vida, eu frequentei cultos da Igreja Adventista porque eu estudava num, pasmem, Colégio Adventista. Eu gostava muito da forma como eles lidavam com a espiritualidade e com as outras pessoas. Eles demonstravam um tipo de respeito que eu não vejo muito por aí, principalmente em algumas denominações religiosas que chamam bastante atenção. Talvez essa doutrina de harmonia e respeito fosse exclusiva dos Adventistas de Jacareí, mas gosto de pensar que tem mais gente pelo mundo pensando dessa forma. Além disso, meu avô se converteu e se tornou evangélico quando eu ainda era pequeno. Sim, todos nós sabemos dos erros cometidos em nome das religiões, mas posso assegurar que meu avô era boa pessoa, mesmo sendo hiperfocado na igreja. Conto tudo isso apenas para ilustrar o pano de fundo da educação cristã que recebi ao longo da minha vida. Eu me esforço para fazer bom uso daquelas reflexões, então gosto bastante da questão de amar ao próximo e toda a história sobre respeito pregada por Jesus, e escolho ver apenas como lendas e fábulas todas aquelas outras histórias sobre genocídio e afins. 

Dada minha educação cristã e minha percepção, digamos, intensa sobre minha própria existência, lá pelos 6 ou 7 anos, fiquei obcecado por uma ideia um tanto quanto perigosa, apesar de nobre. Se Jesus tinha sido tão bom e poderia voltar um dia, que garantias eu tinha de que não poderia... ser Jesus? E tal qual um personagem de quadrinhos dos anos 60 e suas dicotomias deliciosas e educativas, assimilei que com grandes poderes vinham grandes responsabilidades. Então eu queria que o mundo ao meu redor fosse afetado pelas consequências das minhas ações, e que fossem boas! Uma criança meio doida, mas muito bem intencionada, sim, pessoas de todos os tipos. O problema é que minhas primeiras ideias foram curar as dores nas pernas da minha avó com a força do pensamento e colocar minha mão no fogo pra ver se Deus me protegeria.

Minha mãe me impediu de botar a mão no fogo.

Depois de explicar pra mamãe o motivo de eu ter feito aquilo, ela pediu para o pastor e orientador pedagógico da escola, o Pastor Jefferson, conversar comigo. Ele foi muito legal. Aprendi que, dentro da crença de que Deus existe, eu recebi d'Ele o poder de ajudar os outros, como por exemplo, passando hidratante nas pernas da minha avó. 

Desde então, só me machuquei por ser desastrado mesmo, e nunca mais numa tentativa insana de me provar um Messias.

Salve o dia você também.

Atenciosamente,
Fringon, o Replicante