sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Mais gente do outro lado

Eu poderia encerrar o ano de 2021 falando aqui sobre o filme do meu super-herói favorito que lançou recentemente, afinal o filme adapta parcialmente o arco que eu comentei aqui no começo desse blog. Também poderia usar esse espaço para falar sobre como me sinto em relação ao meu trabalho, sobre ter me mudado pra uma casa maior, sobre coisas que aprendi, reaprendi e desaprendi, sobre amizades, sobre decepções amorosas com amores que nunca chegaram a existir... Nada disso. Vou falar sobre a tia que partiu.

Como esse receptáculo de mensagens é o registro mais íntimo e ao mesmo tempo mais impessoal que tenho na internet, vou preservar o nome dela.

Ontem faleceu uma tia avó, de tanto trabalhar. Não foi covid nem nada parecido. Não deu tempo de se preparar nem pudemos nos despedir. O coração dela simplesmente bateu pela última vez. Foi um momento triste, porque ela era daquelas pessoas que nascem de tempos em tempos com a missão de resolver problemas. Ela sustentou um núcleo da família como se fosse mãe deles, sem nunca ter se casado ou tido filhos.

Essa tia era como uma irmã mais velha para minha mãe, e também era amiga de adolescência da minha avó desde antes delas saberem que seriam cunhadas um dia. Figura materna para vários, arranjou emprego pra metade das pessoas da cidade onde eu nasci e onde parte da família viveu durante muitos anos.

Infelizmente, das pessoas que eu conheci desse lado da família, tem mais gente do outro lado do que desse.

A tendência do tempo é continuar passando, mas isso é cansativo às vezes.

Que 2022 seja mais gentil.

sábado, 20 de novembro de 2021

Onde estou

Sobre onde estive, onde estou e aonde vou.

Há cerca de um mês, minha família e eu nos mudamos para mais perto do meu trabalho. Obviamente, essa mudança foi feita após avaliarmos os prós e contras e, claro, os prós se sobressaíram. Estamos felizes onde estamos e as coisas não poderiam estar melhores quanto a isso. Enquanto escrevo isso, vejo os carros na rua, da minha sacada, e não sei nada sobre eles, nem de onde vêm nem aonde vão. Quanto a outras questões pessoais, as coisas são mais complexas, e não digo isso de uma maneira necessariamente ruim, é apenas como a vida é.

Estou próximo do meu aniversário e sempre fico mais reflexivo quando essa data está chegando. A magia que sinto em comemorar o aniversário de outras pessoas dificilmente se faz presente quando o aniversário é o meu. É um assunto que esqueci de levar para a terapia essa semana. Acredito que eu não seja capaz de lidar tão bem com as atenções tão focadas em mim, mesmo sendo uma pessoa que, normalmente, gosta de receber atenção. O aniversário é apenas uma data em que comemoramos o fato de estarmos vivos há um determinado período de tempo. E considerando que o mundo não tem sido muito gentil com os vivos, é de fato uma conquista a se comemorar e celebrar. Ainda assim, me cansa.

Ainda sobre atenção, tenho recebido excessiva atenção por um dos maiores trabalhos da minha vida, que passei meses executando. A receptividade do público está super positiva e isso é maravilhoso. Mesmo assim, sinto-me um tanto quanto exausto dessa atenção girando em torno desse projeto. Confesso que esse tipo de frisson sempre me pareceu divertido e importante para alguém na minha área, mas eu já previa que poderia consumir minha energia e eu tinha razão quanto a isso. Mais de uma vez me peguei pensando que logo isso passa, mas concluí que mesmo que o hype passe, dificilmente as coisas vão retroceder. Isso tudo de fato cansa, mas não posso fazer nada a respeito além de aprender a lidar. 

Muitas vezes, seja no meu presente ou num passado  recente ou distante , senti inveja dos carros que vejo passando na rua, porque a origem e o destino deles pouco importam. Esse pensamento nunca sobrevive a uma reflexão mais longa do que 30 segundos, porque lembro que suas origens e destinos importam para seus motoristas, e volto a focar em dirigir minha própria vida.


A tendência do tempo e continuar passando e não tem nada que possamos fazer a respeito.

quarta-feira, 4 de agosto de 2021

No fundo, fica falso (ou como minha profissão pode acabar)

É cada vez mais frequente entre meus colegas de trabalho a discussão sobre o fim da nossa profissão com a evolução das tecnologias text-to-speech e técnicas de deepfake por computação gráfica. Aliás, essa discussão, em e com outros termos, já existia muito antes de eu entrar nesse meio. E é óbvio que essa profissão vai acabar um dia, assim como muitas outras que deixaram de existir. Enquanto isso é ruim para os profissionais envolvidos, é apenas natural para a humanidade como um todo. 

Entretanto, algumas questões ficam sem grandes respostas na minha cabeça. Quando isso vai acontecer? Estamos tão perto assim do fim da necessidade de dublagem ou, melhor dizendo, o fim da dublagem feita por pessoas? Em termos simples, nosso trabalho é feito de interpretação artística, ou seja, atuação, e sincronização com movimentos labiais e/ou áudio original de uma obra. Uma tecnologia de text-to-speech é capaz de interpretar? Provavelmente sim. Essa mesma tecnologia conseguiria adaptar falas de um roteiro para que o movimento labial combinasse com o que está sendo dito ou essa parte do trabalho ainda teria que ser feita por um ser humano?

Na possibilidade de um sistema text-to-speech não conseguir cuidar do lipsync, as técnicas de deepfake poderiam resolver essa parte do trabalho? Ora, se um filme de orçamento milionário teve parte de sua recepção negativa causada por um bigode removido digitalmente de maneira porca, poderíamos mesmo usar animação em CGI para alterar o movimento labial de todos os atores de um filme sem que aquilo tudo ficasse parecendo um episódio bem trabalhado de Annoying Orange? Não pergunto nem se o público vai se importar, considerando que ninguém gosta muito dos voice-overs, aquelas dublagens "estranhas" de documentários. Quanto a voz, temos outras questões importantes. As vozes deveriam ser formadas em cima de um banco de dados e fonemas gravados previamente. Fico interessado em saber se são pagos os royalties para as pessoas que gravaram vozes de inteligências artificiais que já usamos, se vai haver pagamento de direitos autorais e conexos.

Claro que boa parte dessas perguntas só fazem sentido se ignorarmos a possibilidade de uma máquina conseguir gerar uma voz do zero, coisa que eu acho bem improvável. Aliás, se uma máquina conseguir interpretar com sentimentos, ela está a quantos passos de poder ser considerada um ser vivo com direitos e deveres? Bom, essa última pergunta foi uma versão rasa de qualquer discussão em obras de ficção científica. Ainda na ficção científica, se nada disso importar e conseguirmos, num futuro próximo, ter tradutores universais, como os de Star Trek ou Doctor Who. Além de acabar com a minha profissão, isso mudaria nossa forma de pensar? Estaríamos abrindo mão de formas diferentes de pensar?

Aproveito a deixa para redirecionar aqui um artigo científico que fala um pouco sobre como aprender outros idiomas muda nossa forma de pensar: http://euler.mat.ufrgs.br/~viali/estatistica/estatistica/outros/Linguagem.pdf

Depois de fazer perguntas – algumas meramente retóricas – sobre o quanto essas novas tecnologias impactam no meu trabalho, deixo registrada uma preocupação um pouco mais ampla e de alcance e consequências coletivas: ao criar ferramentas que emulam vozes reais e emoções reais, esbarramos na perigoso uso para fins maliciosos, como incriminar outras pessoas. 

Agora imaginem que um líder político que a população considera um grande g3n0c1d4 se livra de acusações dizendo que metade de suas declarações criminosas foi fruto de uma brincadeira de algum tuiteiro engraçadinho com habilidades avançadas de edição de vídeo e animação. É um problema possivelmente maior do que o fim da minha profissão.

domingo, 1 de agosto de 2021

E nada permanece igual

Recentemente desativei meu Twitter porque a situação estava um pouco cansativa e não acho que sou obrigado a aceitar este tipo de coisa. A coisa em questão é o fato de que um dos meus trabalhos mais recentes tem um alcance maior do que qualquer outra coisa que eu já tenha feito, e o engajamento em cima do que eu publico ficou maior do que nunca. Não posso responder a todas as perguntas que me fazem, e eu estava ficando um pouco irritado tendo que escolher entre o que eu deveria responder educadamente com um "não posso falar sobre isso" e o que eu deveria ignorar. A situação do país também não está das melhores, e o aumento de pessoas interagindo comigo também trouxe um aumento de pessoas sem noção nas minhas interações, trazendo todo tipo de lixo que eu não tenho disposição pra aturar.

A recomendação do meu psicólogo foi que eu gravasse um vídeo para o meu retorno à tal rede social, com instruções sobre que tipo de conteúdo meus seguidores vão encontrar por ali e que tipo de interação estou disposto a ter. Talvez alguns me achem arrogante por isso, mas acredito que o mundo seria bem melhor se todo mundo estabelecesse suas regras logo de cara, e é isso que eu vou fazer.

Além disso, devo me mudar nas próximas semanas. Talvez essa tenha sido a única informação que eu gostaria de compartilhar por aqui, mas não pretendo ir além disso porque já é exposição o suficiente.

quarta-feira, 14 de julho de 2021

Ando meio desligado

Ou queria andar. A internet me consome muito tempo e consome muito do meu emocional.

A maioria das amizades que tenho hoje surgiu na internet, aprendi algumas coisas até, mas estou cansado. Não estou mal, só estou cansado de tanta interação.

Dia desses teve um mané me ameaçando de processo porque ELE me xingou, acredita?

Há algumas semanas eu disse que estava com suspeita de dengue e esqueci de comentar que era dengue mesmo, mas passou depois de uma semana mesmo, como previsto.

O verme está com soluço e eu estou feliz.

domingo, 20 de junho de 2021

Não deixei de gostar de quase nenhuma música

Essa semana está sendo atipicamente típica. Pra variar (/iro), estou trabalhando bastante, mas mais do que o bastante ao qual estamos acostumados. Cliente vazou um trabalho que eu fiz recentemente antes dele ser devidamente lançado e mesmo assim não posso comentar. Chega a ser hilário, apesar de ter me levado a uma crise de ansiedade meio absurda. Mas tudo certo, seguimos vivos, dentro do possível. Aliás, falando em possível, continuamos naquela pandemia sobre a qual eu falei algumas vezes aqui. Eu continuo falando sobre isso como se esse registro fosse realmente tão importante quanto as memórias que vamos ter dessa época. Em notícias mais agradáveis, tomei a primeira dose da vacina já, por ser uma pessoa com deficiência e ter sido contemplado numa das fases da vacinação no começo desse mês.

Retomando a história do trabalho, sexta trabalhei muitas horas, e elas foram satisfatórias, mas ainda assim foram várias. Ontem, sábado, trabalhei bastante também, e hoje estou descansando até a hora da live. Acho que não contei por aqui, mas há alguns meses estou fazendo lives quase semanais com uma amiga minha. Fazemos as lives na Twitch e colocamos depois em formato de podcast nos streamings de áudio. Nesse meio tempo, eu já vi um pouco de Star Trek e agora estou ouvindo música. Amo Star Trek e nunca deixei de gostar de Doctor Who. Também amo músicas que jamais pensei que curtiria, mas não deixei de gostar de quase nenhuma música das que eu ouvia quando era mais novo. Talvez tenha deixado de lado só duas bandas que acabaram se envolvendo em crimes que me deixaram bem desconfortável. Mas, a cada atitude, boa ou ruim, uma recompensa adequada. Ou assim esperamos. Se a História não cobra, melhor a gente já ir cobrando...

Em entrevista recente, Peter Capaldi, que já foi protagonista de Doctor Who disse, em uma tradução livre:

"É bom ser importante, mas é mais importante ser bom."

Até a próxima.

domingo, 9 de maio de 2021

Café

Hoje eu tomei café e senti enjoo. Ontem eu falei sobre um assunto que me causa desgosto, que é o quanto eu tenho visto gente mais nova do que eu se sentir seduzida por discursos de ódio. Existe uma correlação entre os assuntos. E, como quase todo texto desse blog, a correlação puxa um pouco de como foi minha vida entre meus 16 e 19 anos.

Nessa época, eu estava me preparando para tentar uma vaga em universidade, entre ensino médio e cursinho pré-vestibular. Também foi a época em que eu estive o mais perto possível do que outras pessoas poderiam chamar de busca por uma tribo. Nunca fiz parte de nenhum grupo como os roqueiros, os emos, os otakus, os atletas descolados ou qualquer outra expressão que possa ter saído de um romance infanto-juvenil americano mal traduzido. Mas eu queria descobrir do que eu gostava de verdade, quais eram minhas convicções políticas ou até mesmo religiosas e qual era minha turma. Sinto que me encontrei, mesmo que eu não use esses rótulos citados como referência. Mas sem dúvida essa é uma época não apenas decisiva como também perigosa pra adolescentes ou jovens adultos.

Na ânsia de procurar uma turma, alguns podem usar sua revolta e sentimentos negativos como motor, não para procurar soluções, e sim para encontrar outras pessoas com esses sentimentos. Se solidão fez parte da vida da pessoa, ela precisa tomar mais cuidado ainda. Da mesma forma que temos acesso a coisas incríveis na internet, somos expostos a pessoas perigosas, que podem querer fazer de nós meros recrutas pra uma massa de manobra de ideais autoritários e nojentos em todos os níveis. Nunca passei nem perto disso, felizmente. De todos os problemas que vivi nessa época, nenhum chegou a me aproximar dessas coisas, pro orgulho da minha família e pelo bem da integridade das pessoas que eu amo. Pena que nem todo jovem tem uma rede de apoio que o impeça de chegar a esse ponto.

Sobre problemas pelos quais passei nessa época em que eu queria me entender melhor, já comentei sobre vários aqui, menos o café. Desde pequeno eu convivi com o café, porque meu avô paterno, minha mãe e minha irmã sempre gostaram muito. Eu bebia de vez em quando mas nunca tinha feito disso um hábito, até o meu primeiro ano de cursinho, em que eu comia um pão na chapa e tomava um café todo dia de manhã nos intervalos da aula, com a Manii, nós dois sentados no muro do outro lado da rua, falando de Doctor Who e Sherlock Holmes. E por conta da proximidade com os vestibulares, eu passava muito estresse, que eu não conseguia evitar. E também mascava chiclete quase o dia inteiro, porque me ajudava a me concentrar. Obviamente passei a ter gastrite. Não ia conseguir largar o chiclete nem abrir mão do nervosismo. Por isso eu parei com o café. Depois disso, se tomei mais de 5 xícaras de café em um ano, foi muito.

Hoje eu tomei café e senti enjoo.

sexta-feira, 9 de abril de 2021

Tudo que eu não sei

Eu pergunto. 

Meu primeiro contato com a internet foi no meio dos anos 90, privilégio de um menino de classe média que tinha aprendido a ler bem cedo. O primeiro site que eu visitei foi o da Turma da Mônica, assim como foi para a maioria das pessoas da minha geração. Além disso, minhas diversões na internet também envolviam me aventurar no falecido (?) Napster, ver Charges e jogar aqueles joguinhos em Flash. Também ficava pesquisando sobre filmes que eu gostava até quase desmaiar. Durante um bom tempo da minha infância e adolescência, meu uso do computador foi limitado, não por imposição dos meus pais mas sim porque minha irmã mais velha monopolizava um pouco as coisas. Pude passar mais tempo nisso aqui depois que ela entrou pra faculdade, coisa que pode não ter sido muito saudável para mim.

Tem muita coisa na internet que eu não entendo, como algumas piadas e alguns fenômenos. Demorei muitos anos para ver graça no vídeo do Mamute, por exemplo, e ainda não vi graça no Harlem Shake. Parte dessa cultura da qual eu invariavelmente faço parte, parece mais indecifrável para mim do que para amigos e colegas com quem ainda tenho contato. Por outro lado, umas piadas nonsense que faço também não são compreendidas por outras pessoas, então fica elas por elas. Seja lá quem forem elas, e seja lá quem forem elas.

Nesse mês, uns 9 anos atrás, eu estaria na 6ª hora na frente do computador, sentindo que estava perdendo parte do conhecimento acadêmico que eu deveria estar adquirindo para passar no vestibular. Hoje estou na minha 11ª hora na frente do computador, por causa de trabalho. Não tomei Sol na fronteira da Consolação com a Itália. Na época eu não conhecia parte dos meus amigos e não conhecia Phoenix.

A título de curiosidade, enquanto escrevo esse texto, estou com suspeita de dengue. Caso o Pedro do futuro se esqueça, eu registro aqui que é horrível. Fiz o exame hoje às 7 da manhã. Torçam para que seja só dengue mesmo.

Qualquer dúvida, só perguntar.


sábado, 3 de abril de 2021

Complexo de Messias

Aprendi a ler aos 4 anos, e por conta dessa habilidade, tive uma epifania interessante uma vez. Na situação em questão, eu me olhei no espelho e pude notar que minha camiseta (da Stereo Vale, rádio do interior de SP onde meu pai trabalhava) estava com os dizeres na estampa ao contrário. Fiquei fascinado por isso, tentei decifrar o que estava acontecendo ali. Finalmente entendi que o espelho invertia as figurar, e no processo de entender o conceito de figuras enantiomórficas, também me dei conta da minha própria existência como nunca antes tinha tomado consciência. E fui entendendo que tudo que eu fazia tinha consequências sobre o ambiente ao meu redor, e que tudo que acontecia no meu redor tinha consequências sobre mim. Claro, uma criança pequena ficaria assustada com esses pensamentos, e foi o meu caso. Em uma hipérbole para fins puramente dramáticos, eu poderia dizer que nunca mais na vida fiquei tranquilo. O que mais me incomodou, entretanto, foi uma possibilidade meio burra que me ocorreu: ninguém mais tinha essa percepção da vida. Arrogante, certo? Hoje eu sei que, apesar de muita gente só existir sem viver, a maioria das pessoas tem a mesma noção que eu tive naquele dia. Cada um descobre isso a sua própria maneira e em seu próprio tempo. Nem todo mundo tem responsabilidade sobre essa percepção. Caso contrário, o mundo seria um lugar muito mais tranquilo e todo conflito da ficção seria considerado puro absurdo.

Durante um período da minha vida, eu frequentei cultos da Igreja Adventista porque eu estudava num, pasmem, Colégio Adventista. Eu gostava muito da forma como eles lidavam com a espiritualidade e com as outras pessoas. Eles demonstravam um tipo de respeito que eu não vejo muito por aí, principalmente em algumas denominações religiosas que chamam bastante atenção. Talvez essa doutrina de harmonia e respeito fosse exclusiva dos Adventistas de Jacareí, mas gosto de pensar que tem mais gente pelo mundo pensando dessa forma. Além disso, meu avô se converteu e se tornou evangélico quando eu ainda era pequeno. Sim, todos nós sabemos dos erros cometidos em nome das religiões, mas posso assegurar que meu avô era boa pessoa, mesmo sendo hiperfocado na igreja. Conto tudo isso apenas para ilustrar o pano de fundo da educação cristã que recebi ao longo da minha vida. Eu me esforço para fazer bom uso daquelas reflexões, então gosto bastante da questão de amar ao próximo e toda a história sobre respeito pregada por Jesus, e escolho ver apenas como lendas e fábulas todas aquelas outras histórias sobre genocídio e afins. 

Dada minha educação cristã e minha percepção, digamos, intensa sobre minha própria existência, lá pelos 6 ou 7 anos, fiquei obcecado por uma ideia um tanto quanto perigosa, apesar de nobre. Se Jesus tinha sido tão bom e poderia voltar um dia, que garantias eu tinha de que não poderia... ser Jesus? E tal qual um personagem de quadrinhos dos anos 60 e suas dicotomias deliciosas e educativas, assimilei que com grandes poderes vinham grandes responsabilidades. Então eu queria que o mundo ao meu redor fosse afetado pelas consequências das minhas ações, e que fossem boas! Uma criança meio doida, mas muito bem intencionada, sim, pessoas de todos os tipos. O problema é que minhas primeiras ideias foram curar as dores nas pernas da minha avó com a força do pensamento e colocar minha mão no fogo pra ver se Deus me protegeria.

Minha mãe me impediu de botar a mão no fogo.

Depois de explicar pra mamãe o motivo de eu ter feito aquilo, ela pediu para o pastor e orientador pedagógico da escola, o Pastor Jefferson, conversar comigo. Ele foi muito legal. Aprendi que, dentro da crença de que Deus existe, eu recebi d'Ele o poder de ajudar os outros, como por exemplo, passando hidratante nas pernas da minha avó. 

Desde então, só me machuquei por ser desastrado mesmo, e nunca mais numa tentativa insana de me provar um Messias.

Salve o dia você também.

Atenciosamente,
Fringon, o Replicante

segunda-feira, 8 de março de 2021

Digo

Infelizmente, a pandemia não acabou e ela tem levado muita gente. Entre essas pessoas, estava meu primo Rodrigo. A partida dele me deixou abalado como já era de se esperar. Por conta do aumento do número de contaminações e mortes, fui autorizado a voltar a trabalhar em casa temporariamente. Pretendo voltar a desenhar regularmente como eu fazia há alguns meses. Também quero estudar teoria musical pra dar vida a algumas outras ideias. Quem sabe não volto a jogar FPSs para me distrair também? Quem me apresentou aos FPS foi meu primo Rodrigo.

Que Deus o tenha em bom lugar.

Cuidem-se.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Insônia

Venho tendo problemas para cair no sono à noite, mas não me sinto preocupado. Sinto que para resolver isso, preciso apenas voltar a organizar meus horários para pós-ano novo e trabalho presencial. Se isso se estender por mais umas duas semanas, aí sim vou consultar meu médico. 

Tive problemas sérios de insônia por muitos anos, e se eu puxo na memória, vejo que eles surgiram ali por 2011 e demoraram muito tempo pra passar. Na época, eu vivia cheio de preocupações, que depois foram sendo substituídas por outras neuras e impedindo Morfeu de me mandar pro outro lado durante aquelas merecidas horas.

Durante as horas que eu não dormia, eu contemplava outros mundos e vidas que eu não tinha, vidas essas que nem sempre eu desejava ter, apenas gostava de contemplar. Entre as que eu queria ter, havia aquelas realidades em que um ou outro amor era correspondido, em que eu conseguia conciliar uma vida acadêmica com todo o resto e outras coisas que importam menos hoje. E entre as vidas que eu nem fazia muita questão de ter estavam realidades e/ou anseios de amigos próximos, como ter muitos amigos na faixa dos 30 ou apenas desejar ter isso, numa versão imaginária de São Paulo que se assemelha a uma mistura cartunesca de Londres com Nova Iorque, nunca amanhece e os únicos estabelecimentos possíveis são bares. Nunca quis muito isso, apesar de entender que possa ser divertido para alguns. Adolescentes que têm amizades com alguns tipos específicos de adultos não são mais maduros, apenas encontraram companhias imaturas (na possibilidade de não serem também companhias mal-intencionadas).

O que tirou meu sono deixou de ser a escola e a perspectiva de faculdade e passou a ser o trabalho, os resultados, os registros de erros eternizados na TV. Até que um dia tive uma crise fortíssima de ansiedade que me colocou pra tomar rivotril regularmente. Depois de um tempo, o medicamento foi trocado, felizmente, para o oxalato de escitalopram, que é menos agressivo e mais eficaz. As preocupações não sumiram magicamente, e algumas das antigas voltam vez ou outra, mas pelo menos consigo dormir.

Ou conseguiam. Torçam para que eu consiga regular o sono em breve, caros leitores calados.

Atenciosamente,
O Replicante

sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

Quem visualiza isso aqui?

Boa noite e feliz ano novo!

Parece que nos últimos tempos minhas publicações têm sido todas iguais. Isso é um problema mais seu do que meu, ninguém mandou você ler.

Falando em problemas que são mais dos outros do que meus, até que ponto meus hiper-focos são um incômodo? Queria ter uma medida prática que me ajudasse a calcular corretamente isso. Ultimamente tenho me importado muito com Star Trek. Talvez eu apenas goste muito do espaço, do frio e do silêncio que ele oferece. Nada sombrio ou tétrico, apenas meu conceito de conforto e sossego, afinal ter sossego é um dos meus maiores objetivos na vida. Hoje temos um especial de Ano Novo de Doctor Who pra variar um pouco o hiper-foco da vez. Já li opiniões negativas a respeito, mas imagino que eu deva curtir mesmo assim. 

2011 pareceu um ano grandioso pra mim por muito tempo, mas em retrospecto as coisas especiais ali tenham sido apenas 3: a primeira vez em que me apaixonei, a primeira vez que desconfiei que eu poderia ser autista e a primeira vez que usei a expressão "curtir". Maldito Facebook. Falando em me apaixonar, a pessoa por quem nunca deixei de nutrir sentimentos está namorando. O namorado é alguém por quem eu não nutriria sentimentos amorosos caso eu fosse atraído por homens. O que só reforça que somos todos diferentes mesmo em gosto e em todo o resto.

Consigo desligar esse sentimento? Nunca encontrei o "botão de liga/desliga" da paixão e não devo encontrar tão cedo. Paciência, é o custo de ser humano apesar de tudo. Eu poderia julgá-la por ter se permitido esperar tanto por aquele mesmo alguém ao longo de anos, mas eu fiz exatamente a mesma coisa. A única diferença é que pra ela deu certo.

As coisas parecem estar me estressando facilmente nos últimos tempos, mas enquanto eu escrevia essa frase, passei a considerar a hipótese de eu estar me estressando no mesmo nível do que sempre. 

Estamos vivendo uma pandemia e fazer coisas em geral não é recomendável, o que é, como se pode imaginar, um grande transtorno. Não é um transtorno maior do que morrer, mas ainda assim um incômodo considerável. Meus planos para depois da pandemia incluem ir ao Poupa-Tempo e renovar meus documentos, com laudo médico do meu diagnóstico de autista. Dessa forma vou poder usufruir dos benefícios que me são garantidos por lei. Isso deve compensar algumas irritações que eu passei até aqui e que vou continuar passando até o fim dos dias. Felizmente me lembro do diálogo entre Geordi LaForge e Riva em Star Trek TNG 2x05 sobre ser diferente. E olha só, Star Trek aparecendo de novo.

A quem estiver lendo, reforço meu desejo de um feliz ano novo,

Atenciosamente,
Pedro Alcântara