sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

O garoto que podia tudo

Havia um garoto que era proibido de tudo por seus pais. Não era normal. Não eram bons pais. Eles proibiam o filho de fazer coisas que crianças deveriam sempre poder fazer. Ele não podia fazer nada. Até que um dia descobriu que podia fazer tudo. Aos 12 anos, queria que chovesse... e choveu. Aos 13, queria que sua música favorita fosse tocada pela estação de rádio... e ela tocou. Aos 14, queria não ficar de recuperação na escola para que sobrasse mais tempo para zerar um novo game que tinha baixado. Zerou em todas os modos e níveis de dificuldade. Aos 15 anos, queria que a menina por quem era apaixonado o beijasse... e beijou.
Interagir com pessoas pode ser constrangedor
Ele nunca soube de onde vinha esse poder nem qual era o alcance máximo dele. Na verdade, nunca chegou a se preocupar com isso.
In My Life, que música
Chegou aos 16 anos e começou a dormir bem menos. Passava a madrugada falando com os amigos na internet porque achava que poderia dormir durante as aulas. Afinal, pra quê prestar atenção às aulas se, com a força do pensamento, seria aprovado no fim do ano? Mal sabia ele que os professores não o deixariam dormir durante as aulas.
Tempo é muito louco
Estar constantemente com sono é péssimo para qualquer pessoa, inclusive para o garoto que podia tudo. Certa vez, após lavar as mãos, ele entrou em seu quarto e foi editar uma imagem no computador. Por estar sonolento, usou a ferramenta borracha e apagou tudo que não era seu quarto. Tudo deixou de existir fora do quarto. Pela porta, que estava aberta, ele via o nada. Não via nem a escuridão nem a luz. Via apenas o nada. Não havia cor, não havia tempo, não havia espaço. O garoto ficou desesperado porque não sabia como ou por que tinha feito aquilo. Olhou para alguns papéis que estavam ao lado de seu computador e notou que estavam molhados. Não sabia se estavam molhados porque suas mãos ainda estavam úmidas ou por causa de suas lágrimas. Essa foi a história do garoto que podia tudo, mas não sabia de nada.
Sdds sdds
Ele era um imbecil. Meu Deus, que moleque bobo. Era só desejar que tudo voltasse ao normal, mas ele preferiu desejar viver num universo de um livro qualquer que ele nunca tinha lido.
Aprenda coisas
Talvez ele não fosse tão idiota assim.
Nunca deixe de aprender
Mas essa história foi.
E busque conhecimento
Parabéns, você acabou de perder o seu tempo.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

O quê? Quando? Como? Quem?

Depois de muitos meses escrevendo só nonsense ou contos pós-apocalípticos aqui, decidi escrever algum texto que falasse coisa com coisa. O tema dessa postagem é Doctor Who, uma das minhas séries de TV favoritas e tema recorrente em minhas conversas do dia-a-dia, mas que não era citada aqui nesse blog há eras. Venho aqui falar a quem não é fã ou nunca viu Doctor Who. Não, não é um texto escrito com o objetivo de te convencer a ver a série. O que eu quero com isso aqui é tentar fazer você entender um pouquinho do por quê dessa série ser tão idolatrada e por que TODO FÃ QUE VOCÊ CONHECE VAI QUERER TE CONVENCER A ASSISTI-LA MAIS CEDO OU MAIS TARDE.
Ressuscitando a tag nerdice
Pra começar, uma breve explicação sobre o que é Doctor Who: é uma série normal e estranha. Como assim?

Doctor Who é uma série normal porque tem seus altos e baixos, momentos que agradam uns fãs e desagradam outros, gera opiniões, amor, ódio, empatia ou antipatia por personagens, empolgação e tudo mais que qualquer outra série de TV provoca em quem a vê.

Doctor Who é uma série estranha por causa de suas temáticas variadas e seu universo complexo. Conta a história de um alienígena que viaja pelo tempo e pelo espaço em uma nave/máquina do tempo quase infinita por dentro e semelhante a uma cabine telefônica policial de Londres do lado de fora. Em todo canto e época que visita, ele encontra problemas (na maioria das vezes envolvendo monstros alienígenas) a serem resolvidos. Esse alienígena é conhecido apenas como "Doutor" e tem uma percepção diferenciada do tempo e do espaço (ele é um Senhor do Tempo). Ao invés de morrer, ele se regenera e muda de corpo (por isso a série tem mais de 50 anos, vários atores já viveram o papel principal até agora). Normalmente, o Doutor tem companhias em suas viagens (na maioria das vezes, terráqueos) e eles são tão importantes quanto o protagonista. Não vou me aprofundar em explicações porque não é o objetivo da postagem.

E não, eu não me aprofundei em nada no parágrafo anterior.
Cês tão ligados que eu não me aprofundei
Agora que você já sabe como e por que Doctor Who consegue ser uma série normal e estranha ao mesmo tempo, pode entender por que os fãs são tão insanos a respeito dela.
Tô com sdds de DW
Qualquer coisa, qualquer tema, qualquer reflexão que seriam encontrados em qualquer série de TV que você imaginar poderiam (e provavelmente já foram) explorados da forma mais inimaginável e fantasiosa em Doctor Who. DW é uma experiência incrível que une o adulto e a criança que vivem na sua mente.
Eu pretendia escrever um texto maior
Guerra, paz, amor, ódio, política, medo, alegria etc
Tudo isso está presente em DW. Só que provavelmente com monstros. No espaço.
Mas que bom que ficou simples
É por isso que os fãs amam essa série tão normal e tão esquisita.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Canto Sombrio, Canto Sombrio

As lâmpadas estavam apagadas. Ayla não se lembrava se as tinha apagado deliberadamente ou se elas tinham queimado. Só sabia que estava escuro. Ela também não se lembrava há quanto tempo estava ali. 15 minutos ou alguns milênios? A moça estava imersa na escuridão e também na desorganização. Havia objetos variados ao redor do canto onde ela estava sentada. Ninguém entraria ou passaria por perto daquele quarto. Disso ela tinha certeza.
Há sempre algo constrangedor que
Ayla decidira se sentar ali para ter tranquilidade. Não estava triste, mas não estava alegre. Simplesmente estava. Estava e queria ouvir o silêncio. A sensação de paz que o silêncio causava era tão prazerosa como olhar através de lentes de óculos recém-lavados. O problema é que o silêncio era falso. A garota ouvia os próprios pensamentos. Ouvia tudo. Ouvia até mesmo o que gostaria de esquecer. Memórias constrangedoras pisavam nos pés das memórias bonitas e agradáveis, como se a mente de Ayla fosse uma aula de dança para selvagens.
Você repete mentalmente em situações desagradáveis
O emaranhado de pensamentos surgira como um ruído ensurdecedor.
Para se lembrar que poderia ser pior
Apesar de não se lembrar de quanto tempo havia passado sentada no canto escuro, Ayla lembrava que o tempo passava. E conforme o tempo passava, ela foi organizando os pensamentos. Os pensamentos não eram mais todos selvagens. Os constrangedores eram exemplos a não se seguir. Os bonitos e felizes, exemplos a serem seguidos. Ayla percebeu o que deveria ter feito de diferente em cada momento de sua vida para que não tivesse sentido a necessidade de se esconder em um canto escuro. A dor de saber que não poderia mudar o passado atingia até sua alma, porém era esclarecedora. O ruído ensurdecedor já tinha se tornado uma música. Uma música de melodia estranha e letra doentia. Mas não era mais um ruído. Era como uma música que se tem vergonha de gostar, mas se escuta quando se está sozinho.
Mano para de ouvir screamo
O esclarecimento não deixou Ayla alegre, mas também não a deixou triste. Sabia, agora, que em algum momento iria se levantar e sair do quarto escuro para poder cometer menos erros e acertar mais. Só não sabia exatamente quando. Provavelmente, quando a música se tornasse silêncio.
Esperança faz bem, viu

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

O Pregador de Sigma

Em frente à mercearia no centro da pacata cidadezinha de Sigma, no Reino de Sempremais, um homem vestido em trapos sujos gritava coisas estranhas. Em suas mãos havia uma pequena caixa de madeira. Sua barba volumosa e tão suja quanto a roupa disfarçava sua idade. As pessoas que passavam por ali olhavam para ele com cara de desprezo ou medo.
5 anos pode demorar
— Ouçam o rugido do Leão! Ouçam as trombetas! OUÇAM OS CARROS DE GUERRA! —, gritava o jovem bem idoso, ou o velho ainda novo.
Mas, no fim, sairá a sentença
Obi, o dono da mercearia, saiu do estabelecimento com irritação estampada no rosto e uma vassoura na mão, espantando o homem que gritava e não largava a caixa de madeira. Ninguém fez nada para ajudar o homem mal-trapilho. Na verdade, a maioria das pessoas que estavam por perto ficaram aliviadas em ver alguém fazendo algo a respeito e tentando tirar o homem dali. Kiva, do lado de dentro da mercearia, passou a dar mais atenção à cena que se passava do lado de fora do que aos produtos que considerava comprar. Afinal, era agricultora. O que a mercearia teria para lhe oferecer que ela já não pudesse ter em casa?
Ao final, todos vamos louvar
— INFIÉIS, deveriam se preparar para a guerra! A Era da Terra está para acabar! —, prosseguiu o homem — Aqueles que não se voltarem aos velhos hábitos sucumbirão perante Os Mecânicos! SERÃO DEVORADOS PELA MORTE QUE GUARDAM OS SERVOS DE AZALEIA!
Se encerrará então, toda e qualquer desavença?
Ao ouvir essas palavras, Kiva se lembrou de sua infância. Mas não foi uma lembrança que chegou suavemente, como a visita esperada de um bom amigo. Foi uma lembrança que invadiu seus pensamentos como Orcs que invadem uma vila. Os pensamentos da moça levaram-na de volta à época em que ouvia histórias do seu avô, treinava para se tornar uma arqueira real como todas as mulheres da família e sonhava também em ser uma exploradora para visitar as Terras Proibidas e ver com os próprios olhos os tais Guardiões da Morte a quem o louco provavelmente se referia. Mas esses tempos já eram distantes. O avô de Kiva já não estava mais entre os vivos e as chances de se tornar arqueira real eram tão inexistentes quanto as de se tornar uma exploradora.
Quantas vezes as repetições se repetem?
— RENDAM-SE! Juntem-se! Reunam o exército de Fly! Coloquem as tropas de Fly em ação! —, continuou o louco, a uma distância da mercearia que Obi não parecia estar disposto a percorrer.
Até onde vão as iterações?
As memórias a respeito de seu avô e sua infância fizeram com que Kiva não visse tudo que o homem gritava como um amontoado de bobagens sem sentido ou como simples absurdos. A moça estranhou a sensação que a tomou. Não era uma sensação normal. Tomava todo seu corpo, não só sua mente, e falava diretamente a ela. Ele está certo, dizia a Sensação. Todos esses que o estranham e o temem são meros ignorantes. Você sabe do que ele está falando. Mas Kiva não sabia do que o homem estava falando. Só sabia que estava deslocada. Ao dar atenção ao que dizia o mal-trapilho, já não era mais comum como todas as outras pessoas que estavam por perto. Aquelas pessoas achavam que não havia nenhum fundo de lucidez em qualquer loucura. Mas pessoas assim também acham que fogo e água nunca podem se misturar. E se esquecem que existe o vapor.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Gosto de 2004

A luz solar invadiu o quarto sem pedir permissão. Eram 6 da manhã? 3 da tarde? Abel não sabia. Só sabia que, com aquela luz na cara, não seria possível continuar dormindo. Ele tinha certeza de que fechara as persianas antes de se deitar, mas estava cansado demais para confiar na própria memória. Estava cansado demais para muitas coisas, dentre elas voltar a dormir. O cansaço de uma pessoa deve atingir um nível colossal para que ela perca a vontade até mesmo de descansar.
Febre alta alta alta Febre
Sair do quarto para interagir com a própria família? Não, Abel também não estava com disposição para isso. Só estava disposto a sentar na frente do computador (que era bem rápido e nunca travava) e internetar. Ele estava com preguiça demais para definir pra si mesmo o que faria na internet (sentar-se, ouvir as mesmas músicas repetidas das últimas duas semanas – sempre que descobria uma música nova, passava duas semanas ouvindo-a exaustivamente –, e ler as bobagens que seus amigos postavam).
Qual é a diferença entre 2006 e 2007?
Assim que se sentou, lembrou que não tinha por que sentir preguiça de sair do quarto e interagir com a família, porque nem ao menos morava com a família. Ou morava. Abel ficou confuso. A luz do luar que entrava pela janela devia estar deixando-o confuso. Não que fosse normal o luar confundir alguém. E não que fosse normal... Era dia. Mas agora era noite. Abel ficou mais confuso. E resolveu ignorar. Estava com preguiça demais para pensar a respeito das incoerências ao seu redor.
Todas as coisas são importantes
Assim que o computador ligou (aquilo demorava uma eternidade para ligar, e ainda por cima travava sempre), Abel foi abrir seu navegador de internet favorito, mas não lembrava qual era. Podia jurar que era o único instalado na máquina além do Internet Explorer, mas viu logo de cara, na Área de Trabalho, os ícones do Mozilla Firefox, do Opera e do Google Chrome. Ficou em dúvida quanto a qual usaria pra acessar sua rede social favorita... Que ele também não lembrava mais qual era. Ótimo. Podia entrar em cada rede social com um navegador diferente. Com o Chrome, abriu o Facebook. Com o Mozilla, entrou no Twitter. Com o Opera, acessou o VK. Com o Internet Explorer, visitou o Orkut. O som de notificação assustou Abel e quebrou o silêncio ao anunciar a chegada de uma mensagem no MSN. Abel preferiu ignorar a mensagem.
Tudo chega a um fim,
O rapaz ficou assutado ao comparar uma rede social com a outra. Nada parecia fazer sentido. Em cada uma, havia um grupo diferente de amigos. Qual passado era verdadeiro? Porque ele tinha lembranças de cair na bebedeira com seus amigos roqueiros quando todos ainda eram menores de idade, mas também lembrava de passar madrugadas jogando D&D com seus únicos 3 amigos. Viu uma foto de quando estava na quarta série e uma lágrima solitária escorreu por seu rosto. Na hora, não sabia se era uma lágrima de nostalgia ou se era de tristeza, ao lembrar que não tinha amigo algum quando era pequeno.
mas nunca deixa de existir,
Abel não gostava de omelete porque omeletes têm gosto de falta de opção. Abel também ficava em dúvida quanto a madrugadas, porque nunca ficava claro na mente dele se elas faziam parte da noite, da manhã ou se simplesmente estava tarde.
porque nada é esquecido.
Sua alma tropeçou no seu corpo e ele acordou da realidade.

domingo, 2 de março de 2014

Connor e McFly

O ar não era mais tóxico e a radiação não assolava aquele campo. Não havia necessidade de Sarah estar ali, mas ela pediu e o pai insistiu que Marty a levasse para caçar. A caçada demorou o mesmo tempo que teria demorado se Marty estivesse sozinho, mas ele gostava de pensar que a irmã mais nova tinha atrapalhado em alguma coisa. Ela não parava de falar. Se tivesse ficado quieta, os cervos não teriam se afastado tanto. Dois cervos eram o saldo final da empreitada. Não eram dos mais gordos, mas seriam um ótimo jantar para os moradores de Perfeição, acostumados a comer apenas galinhas criadas na própria colônia e vegetais plantados e colhidos por lá. Sarah ajudou o irmão a colocá-los na traseira da caminhonete e se sentou no banco do passageiro enquanto Marty resmungava qualquer coisa.
A luz do pôr-do-Sol atingia Marty na altura dos olhos enquanto ele dirigia, mas o garoto não se incomodava porque estava conhecia bem o caminho. Além disso, não havia ninguém por perto que pudesse se colocar na frente da caminhonete e ser atropelado. Estava acostumado a voltar pra casa ouvindo apenas o barulho do motor, mas dessa vez ouviu a irmãzinha fazer uma pergunta poucos instantes depois de dar a partida:
Penso no que seria do presente
— Marty, o que é carniceiro?
— Bem... carniceiro é um bicho que come carniça —, disse Marty sem a menor vontade de prosseguir com a conversa.
— E o que é carniça?
— Carniça é um bicho morto — respondeu o garoto, com a certeza de que a irmã iria perguntar mais coisas.
— Então nós somos carniceiros?
— Peraí. Do que você tá falando?
— Ué, matamos esses bichos e vamos comer depois. Igual a gente faz com galinha. A gente mata e depois come.
— Sim, sim... Mas fomos nós mesmos que matamos.
Se eu mudasse o passado
Sarah ficou remoendo a última resposta do irmão por 10 segundos até perceber que continuava não entendendo.

— Olha só, imagina um leão que matou algum bicho —, começou a explicar o irmão mais velho após notar a expressão de dúvida de Sarah — Agora pensa em uma hiena. Lembra da hiena? Igual às que aparecem no Rei Leão. Então, se uma delas resolve comer um bicho que o leão matou, ela é a carniceira.
— Ah, entendi! Então as outras pessoas da colônia são as carniceiras, não é? Porque elas vão comer o que a gente matou.
— Não, não, Sarah.... Não é isso. Primeiro: fui eu quem matou sozinho. Segundo: isso não vale pra gente porque somos pessoas. Carniça geralmente é um bicho morto que foi deixado pra trás. Talvez ele já tenha até apodrecido. E só animais vão atrás disso.
— Então pessoas nunca comem coisa estragada?
— Isso mesmo.
Mas o presente já seria outro.
Marty achou que a irmã ficaria quieta e começou a pensar em Enihs, uma menina um ano mais velha que vivia na colônia. Mas antes que pudesse se perguntar por que aquela menina surgiu em seus pensamentos, ouviu a irmã falar outra vez.
Bacon e cupcake
— Marty, você falou que carniça é coisa de animal, mas eu já vi falarem em um filme que a gente também é animal.
— Sim, Sarah. Somos animais, mas não somos selvagens.
Milkshake de música

Finalmente, Marty conseguiu falar algo que deixou Sarah pensativa e silenciosa até voltarem a Perfeição. Durante o resto do trajeto ficou apenas pensando em como afastaria da cabeça as ideias de que seu próprio jantar era um animal como ele mesmo.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Sheetlog


Muitos foram chamados, poucos compareceram, vários fugiram, todos sofreram.

Puxa, esse começo ficou horrível. É... Eu estou em dúvida sobre o que escrever aqui, mas eu senti necessidade de escrever alguma coisa, falar, mesmo que ninguém fosse ouvir, então peguei essa máquina de escrever. Não que eu estivesse com medo de gastar eletricidade usando o computador. É que ele já está sendo usado pela minha esposa. Isso! Acho que posso começar por aí.
Minha esposa não se casou comigo. As coisas terminaram antes que pudéssemos nos casar. As coisas (mundo) foram terminadas (destruídas) pela guerra. Não sei bem se você que está lendo isso ainda vai ter lembranças de que houve uma guerra que acabou com tudo, mas é isso aí. Tudo destruído. Mas não foi de uma vez.
Deu tempo de baixar coisas. Baixar é pegar da internet. Internet era uma coisa virtual (que não podíamos tocar) que era acessada pelos computadores (máquinas de calcular sofisticadas) e era usada pra comunicação, basicamente. BEM BASICAMENTE... Tinha muito mais coisa. Dava pra ler o que você quisesse, saber o que estava acontecendo do outro lado do mundo, falar pra alguém o que estava acontecendo do SEU lado do mundo etc. Também tinha idiotice. Umas mais irritantes do que outras. Acho que eu fugi do assunto.
Eu tentei baixar muita coisa. MUITA MESMO. Eu precisei roubar HDs externos pra salvar tudo (salvar é guardar virtualmente). Olha, eu me sinto bem mal por ter precisado roubar, mas ninguém estava se importando mais. Eu até pensei em deixar dinheiro nas lojas das quais peguei esse equipamento, mas eu também não tinha dinheiro e ia precisar roubar etc. Bem, ninguém estava se importando mais com dinheiro também. Por que eu baixei as coisas? Pra não esquecer. Ugh, acho que vou começar a soar clichezento e pseudofilósofo de novo...
Guardei nossas memórias pra que pelo menos uma pessoa soubesse quais acertos nós deveríamos repetir e quais erros nós deveríamos (tentar) evitar quando (e se) reconstruíssemos o mundo.
... Eu também baixei filmes e séries de TV.
Em outro texto eu explico o que é isso se você não souber.
Faz um ano e meio, mais ou menos. Ainda não vi nenhum sinal de reconstrução, mas eu também não esperava que fosse tão rápido. Enfim, não houve nenhuma cerimônia nem nada que decidisse de maneira oficial que eu e minha “esposa” fôssemos realmente casados, mas como a gente pretende ficar junto pra sempre, decidimos por conta própria que “casados” era o que seríamos. E somos. Ela está grávida. É por isso que ela está no computador e eu aqui. Ela escolheu hoje para pesquisar nos arquivos baixados textos sobre gravidez e maternidade pra gente tentar fazer tudo do jeito certo. A leitura deve estar interessante, considerando-se que ela ainda não reclamou do barulho da máquina de escrever.
E é isso aí. Eu fiquei com vontade de escrever e não sei o que eu devo escrever. Na verdade, eu até já escrevi bastante pra quem não está com ideias... Isso está parecendo texto dos meus blogs (eu explico o que é blog quando eu falar o que é TV). Meu primeiro blog foi um fracasso. Não que ninguém estivesse disposto a ler... É que eu não estava disposto a escrever e abandonei aquilo rapidamente. Ah, meu segundo blog. Esse sim foi legal, mas durou pouco (1 ano, eu acho... Minha memória está ficando fraca). Legal pra caramba. O meu terceiro blog foi interessante. Eu nunca entendi ele e nem lembro como ou se acabou. Isso é estranho. Não estou lembrando bem dos acontecimentos mais recentes e lembro dos antigos. Não entendo minha mente. Ela parece o terceiro blog.
Sim! Essa é uma boa ideia. Vou fazer disso meu blog. Sem compromisso nenhum. Só vou escrever se eu tiver boas ideias ou se eu sentir necessidade de falar alguma coisa qualquer. Considerando que isso é papel sulfite (que eu roubei), não acho que “pessoas do outro lado do mundo” vão poder ler, como deveria ser um blog, mas que se danem as regras. Pra quê regras em um mundo pós-apocalíptico? Na verdade, eu posso chamar isso aqui de qualquer coisa. Não precisa ser “blog”. Pode ser “feijão” ou “paralelepípedo”.
Blog está bom.
Acho que vou contar um pouco do que está acontecendo. É, eu sei que eu já fiz isso, mas vou contar o que está acontecendo agora mesmo.
Estamos “acampados” no nosso trailer (é um carro grandão e isso fica pra junto da TV também). Estacionamos do lado de um relógio de Sol grandão que tem do lado da estrada. Quem arranjou o trailer foi a minha esposa. Precisávamos de um se quiséssemos carregar tanto HD. Precisamos descansar pra poder prosseguir amanhã. Estamos indo para o sítio da família de uns amigos de infância meus. Não sei se eles ou mais alguém vão estar lá. Por que estamos indo pra lá? Essa pergunta não deve ser feita por você pelos seguintes motivos:

  • Eu também não sei. Me pareceu uma boa ideia. 
  • Isso aqui são folhas de papel. Elas não vão te responder se você perguntar alguma coisa.

Bom... Se eu falar que não tem motivo nenhum mesmo é mentira. Lá é um ponto de encontro que marcamos com o irmão da minha esposa antes das comunicações caírem. Ele é um sujeito muito bacana. Espero que ele consiga chegar lá com a moto dele. Ele não larga aquela moto por nada.

Estou ficando com sono e está ficando tarde. É, É, eu sei que eu não preciso seguir regras em um mundo em que elas não existem mais, mas esse tipo de coisa me ajuda a manter a sanidade. Não pretendo quebrar essa regra tão cedo quanto eu quebrei a de escolher nomes.

Falando em nomes, essa é uma coisa bem legal. Liberdade pra escolher nomes. Eu estava pensando no nome do bebê. Se for uma menina, vamos chamá-la de Sarah Connor. Se for um menino, o nome vai ser Marty McFly.

Boa noite.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

36 Horas

Era uma vez uma pizzaria 24h. Ela fazia muitas pizzas. Muitas MESMO. Todos se perguntavam como eles conseguiam. Acontece que não era realmente uma pizzaria 24 horas. Ela era 36 horas. Eles possuíam uma máquina que colocava o estabelecimento em uma bolha temporal por 12 horas. Era como se uma timeline paralela fosse criada só pra eles poderem fazer mais pizzas mesmo tendo só uma cozinha.
 I am part of something.
Um dia aconteceu um assalto a um banco na rua da pizzaria. Os ladrões saíram correndo e resolveram se esconder dentro do tal restaurante time-traveler. Aí a polícia entrou também e começou um tiroteio. Uma bala acabou acertando a máquina da bolha temporal.
 I am part of nothing.
...
...

E ELES FICARAM PRESOS LÁ DENTRO PRA TODA A ETERNIDADE.

Fim :)

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Capítulo Final

"Aquilo que era desconhecido será conhecido e o Armagedom será alcançado. E assim será o começo do fim.
As feras que estavam escondidas sob a terra se levantarão para tomar o mundo. As guerras estão no passado, no presente e no futuro. Houve e haverá grandes guerras, mas a Guerra do Fim será a maior de todas.
Todos os seres vivos lutarão contra as feras da destinação final. Nem todos os que tombarem terão merecido a morte, mas é sabido que apenas valorosos de coração sobreviverão.
Do pó a existência veio e ao pó ela retornará. A vida de todos esteve mergulhada na poeira e na lama, mas isso acabará. A Guerra do Final varrerá tudo que cobre o mundo. Todos os ramos que cobrirão a Terra serão queimados e lavados.

Assim será o final da Era da Terra.
Assim será o início da Era da Água e do Fogo.

Ouça o rugido do Leão" - O Livro de Fly, Capítulo Final

sábado, 18 de janeiro de 2014

Entre 5150

Esse texto não deve ter relação algum com nenhuma das outras coisas que eu já escrevi.
Era um fim de tarde ensolarado em uma cidade movimentada. Algumas pessoas comiam em uma lanchonete simples. A uma das mesas, sentavam um jovem já idoso e um idoso ainda jovem. O primeiro comia um sanduíche de inexistência e o segundo tomava um chá de orgulho. O idoso ainda jovem mexia seu chá para que o açúcar se misturasse ao líquido adequadamente e formava um redemoinho dentro da xícara.
Ciclos se repetem para sempre, mas não literalmente.
À mesa ao lado sentavam quatro moças: Morte, Riqueza, Sabedoria e Nami. Elas estavam jogando um jogo de baralho chamado bacará e as apostas estavam altas. A Morte apostava a existência, a Riqueza apostava a poeira em alto mar, a Sabedoria apostava as florestas de Marte e Nami apostava a tempestade de dentro da xícara do chá de orgulho.
É só quase para sempre.
Na xícara, o redemoinho ganhava força e um navio que tinha a própria Verdade como conteúdo navegava pelas águas tempestuosas. Em meio à crescente ventania, aviões sem seus pilotos voavam rumo à destruição.
Mais cedo ou mais tarde tudo chega a um fim
O jogo foi todo jogado errado e uma tigela de sagu que estava sobre uma terceira mesa tremia de medo. Não houve vencedores naquela partida, mas alguém certamente foi o perdedor.
Chega a um fim mas não deixa de existir.
Você, leitor, vai ter um sonho daqui a exatos 19 anos e 3 meses. O texto que você acabou de ler é livremente baseado nesse sonho. Aguarde a confirmação de seu cadastro na vida real e abrace a pessoa amada mais próxima de você.
Porque nada é esquecido.
Agora.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Os Guardiões da Morte

"Ouça o rugido do Leão.
Antes do início, já havia a morte. No início, a morte deveria ter sido destruída, mas foi guardada. Aqueles que salvaram a morte se esconderam sob o chão. Veio então o fogo e a luz, que colocaram tudo onde deveria estar e espalharam as raças e tribos pelo mundo. Depois do início, as tribos começaram a se unir e formar os reinos." - O Livro de Fly, capítulo 1

Era primavera e o dia tinha sido quente. A menina Kiva brincou com seus amigos pelas ruas de Perfeição, capital do reino de Sempremais, e já estava cansada ao fim da tarde. Depois de jantar e tomar um banho, ouvia as histórias que seu avô contava no seu quarto.

— ... E foi assim que Tauren resgatou a princesa do fabuloso Reino de Sup.
— Mas, vô, essa história eu já ouvi mil vezes! Conta alguma outra?
— Tudo bem... — O avô de Kiva coçava a própria barba tentando pensar em alguma história que já tivesse contado à neta há tanto tempo que ela deveria ter esquecido, mas não conseguiu pensar em nada. — Que história você quer ouvir?
— Não sei... — A expressão de dúvida de Kiva foi subitamente substituída por uma de euforia — Me conta sobre Os Mecânicos! Por favor! Conta, vai!

A princípio, o avô relutou em contar, mas sabia que a neta não desistiria dessa ideia tão cedo, então começou:

— Está certo. Saiba que essa é uma lenda muito antiga e eu nem imaginava que um dia você iria ouvir falar desse assunto —, disse o avô, enquanto se acomodava melhor na cama. — Dizem que antes do nosso surgimento, havia um povo que morava nesse mundo. Também dizem que quase tudo que eles tinham, suas tribos, seus reinos, suas memórias, quase tudo, foi destruído com o fogo do céu. E, você sabe, o fogo do céu foi o que nos colocou aqui. Luz e fogo, aquela história toda. Acontece que algumas pessoas do povo de antes do início se esconderam debaixo da terra pra tentar proteger suas coisas. A lenda diz que eles salvaram as máquinas. Essas máquinas-
— Vô, o que são máquinas? —, interrompeu Kiva.
— Imagine ferramentas. Existem várias ferramentas com inúmeras utilidades. — explicou o avô — Temos martelos, rodas, picaretas, pás, alavancas... Máquinas são coisas que misturam mais de uma ferramenta. Pode ser repetição da mesma ferramenta ou ter várias diferentes. Por exemplo, se você junta duas alavancas simples, você tem...
— Uma pinça? —, completou Kiva.
— Exatamente. E, se quiser, você pode juntar duas alavancas de um jeito um pouco diferente e uni-las a duas lâminas e você tem uma tesoura. Entendeu agora o que são máquinas?
— Sim, vovô. Agora continue falando dos Mecânicos, por favor.
— Certo... Os Mecânicos guardaram máquinas de antes do início, mas não eram máquinas comuns, como as que temos hoje. Eram muito mais complexas do que podemos imaginar. E eram feitas de luz e metal. Tinham luz dentro delas e precisavam de luz para funcionar.
— Mas o que faziam essas máquinas?
— Não sei, Kiva, mas sei que não devia ser coisa boa. Tanto que o pessoal das ilhas independentes chama Os Mecânicos de "Guardiões da Morte". Tudo que havia antes do início-
— ... era morte, blá, blá, blá... — interrompeu Kiva, novamente — Eu sei disso. Agora sei que eles moravam debaixo da terra também, mas... Ainda não sei onde fica essa terra em que eles se enterraram.
— Me diga uma coisa, Kiva, você sabe o que tem ao norte? E não, não estou me referindo ao Reino de Nuncamenos.
— As ilhas independentes? — Kiva pensou por mais alguns segundos — ... Já sei! O Mar da Morte?
— Não, Kiva. Mais acima.
— As Terras Proibidas! — respondeu Kiva com cara de espanto — É por isso que elas são proibidas?! Eu achava que lá tinha muitos monstros. Não sabia que era lá que moravam Os Mecânicos.
— Olha, na verdade, chamam de Terras Proibidas porque nenhum navegador nunca conseguiu chegar lá. Se alguém conseguiu, não voltou pra contar o que encontrou. Mas tem gente que acredita que é lá que vivem Os Mecânicos.

O avô não conseguiu conter um bocejo e percebeu que já estava ficando tarde.

— Kiva, o vovô já está ficando cansado e você precisa ir dormir. Sua mãe me falou que vai levar você para os campos amanhã e te ensinar a manejar o arco e flecha. Quem sabe você não entra para a Guarda Real quando crescer, igual a todas as mulheres da família?
— Vô, eu não quero ser da Guarda Real. —, respondeu Kiva, com empolgação — Eu quero ser uma exploradora! Quero atravessar os oceanos e ver os elfos. E eu também vou ser a primeira pessoa a navegar pelo Mar da Morte. Vou visitar as Terras Proibidas e depois voltar pra contar o que eu encontrei lá.
— Tudo bem, criança, mas saiba que se você quiser fazer tudo isso, vai precisar saber lutar pra derrotar qualquer monstro feroz que aparecer no seu caminho.... — disse o avô, querendo encontrar um forma de encerrar logo aquela conversa e ir dormir — E o mais importante: vai precisar estar descansada. Agora deite e feche os olhos.

O idoso beijou a neta na testa, apagou a lamparina e saiu do quarto. Kiva se deitou tentando pensar em todas as maravilhas que ainda poderiam ser descobertas. Naquela noite, sonhou com aventuras no continente dos Elfos, sonhou com os mistérios das Terras Proibidas e com as fabulosas máquinas de antes do início. A garota mal podia esperar para desbravar o mundo, conhecendo todas as realidades que eram lendárias e todas as lendas que eram reais.