Muitos foram chamados, poucos compareceram, vários fugiram, todos sofreram.
Puxa, esse começo
ficou horrível. É... Eu estou em dúvida sobre o que escrever aqui, mas eu senti
necessidade de escrever alguma coisa, falar, mesmo que ninguém fosse ouvir,
então peguei essa máquina de escrever. Não que eu estivesse com medo de gastar
eletricidade usando o computador. É que ele já está sendo usado pela minha
esposa. Isso! Acho que posso começar por aí.
Minha esposa não se
casou comigo. As coisas terminaram antes que pudéssemos nos casar. As coisas
(mundo) foram terminadas (destruídas) pela guerra. Não sei bem se você que está
lendo isso ainda vai ter lembranças de que houve uma guerra que acabou com
tudo, mas é isso aí. Tudo destruído. Mas não foi de uma vez.
Deu tempo de baixar
coisas. Baixar é pegar da internet. Internet era uma coisa virtual (que não
podíamos tocar) que era acessada pelos computadores (máquinas de calcular
sofisticadas) e era usada pra comunicação, basicamente. BEM BASICAMENTE... Tinha
muito mais coisa. Dava pra ler o que você quisesse, saber o que estava
acontecendo do outro lado do mundo, falar pra alguém o que estava acontecendo
do SEU lado do mundo etc. Também tinha idiotice. Umas mais irritantes do que
outras. Acho que eu fugi do assunto.
Eu tentei baixar
muita coisa. MUITA MESMO. Eu precisei roubar HDs externos pra salvar tudo
(salvar é guardar virtualmente). Olha, eu me sinto bem mal por ter precisado
roubar, mas ninguém estava se importando mais. Eu até pensei em deixar dinheiro
nas lojas das quais peguei esse equipamento, mas eu também não tinha dinheiro e
ia precisar roubar etc. Bem, ninguém estava se importando mais com dinheiro
também. Por que eu baixei as coisas? Pra não esquecer. Ugh, acho que vou
começar a soar clichezento e pseudofilósofo de novo...
Guardei nossas
memórias pra que pelo menos uma pessoa soubesse quais acertos nós deveríamos
repetir e quais erros nós deveríamos (tentar) evitar quando (e se)
reconstruíssemos o mundo.
... Eu também baixei
filmes e séries de TV.
Em outro texto eu
explico o que é isso se você não souber.
Faz um ano e meio,
mais ou menos. Ainda não vi nenhum sinal de reconstrução, mas eu também não
esperava que fosse tão rápido. Enfim, não houve nenhuma cerimônia nem nada que
decidisse de maneira oficial que eu e minha “esposa” fôssemos realmente
casados, mas como a gente pretende ficar junto pra sempre, decidimos por conta
própria que “casados” era o que seríamos. E somos. Ela está grávida. É por isso
que ela está no computador e eu aqui. Ela escolheu hoje para pesquisar nos
arquivos baixados textos sobre gravidez e maternidade pra gente tentar fazer
tudo do jeito certo. A leitura deve estar interessante, considerando-se que ela
ainda não reclamou do barulho da máquina de escrever.
E é isso aí. Eu fiquei
com vontade de escrever e não sei o que eu devo escrever. Na verdade, eu até já
escrevi bastante pra quem não está com ideias... Isso está parecendo texto dos
meus blogs (eu explico o que é blog quando eu falar o que é TV). Meu primeiro
blog foi um fracasso. Não que ninguém estivesse disposto a ler... É que eu não
estava disposto a escrever e abandonei aquilo rapidamente. Ah, meu segundo
blog. Esse sim foi legal, mas durou pouco (1 ano, eu acho... Minha memória está
ficando fraca). Legal pra caramba. O meu terceiro blog foi interessante. Eu
nunca entendi ele e nem lembro como ou se acabou. Isso é estranho. Não estou
lembrando bem dos acontecimentos mais recentes e lembro dos antigos. Não
entendo minha mente. Ela parece o terceiro blog.
Sim! Essa é uma boa
ideia. Vou fazer disso meu blog. Sem compromisso nenhum. Só vou escrever se eu
tiver boas ideias ou se eu sentir necessidade de falar alguma coisa qualquer.
Considerando que isso é papel sulfite (que eu roubei), não acho que “pessoas do
outro lado do mundo” vão poder ler, como deveria ser um blog, mas que se danem
as regras. Pra quê regras em um mundo pós-apocalíptico? Na verdade, eu posso
chamar isso aqui de qualquer coisa. Não precisa ser “blog”. Pode ser “feijão”
ou “paralelepípedo”.
Blog está bom.
Acho que vou contar
um pouco do que está acontecendo. É, eu sei que eu já fiz isso, mas vou contar
o que está acontecendo agora mesmo.
Estamos “acampados”
no nosso trailer (é um carro grandão e isso fica pra junto da TV também). Estacionamos
do lado de um relógio de Sol grandão que tem do lado da estrada. Quem arranjou
o trailer foi a minha esposa. Precisávamos de um se quiséssemos carregar tanto
HD. Precisamos descansar pra poder prosseguir amanhã. Estamos indo para o sítio
da família de uns amigos de infância meus. Não sei se eles ou mais alguém vão
estar lá. Por que estamos indo pra lá? Essa pergunta não deve ser feita por
você pelos seguintes motivos:
- Eu também não sei. Me pareceu uma boa ideia.
- Isso aqui são folhas de papel. Elas não vão te responder se você perguntar alguma coisa.
Bom... Se eu falar
que não tem motivo nenhum mesmo é mentira. Lá é um ponto de encontro que
marcamos com o irmão da minha esposa antes das comunicações caírem. Ele é um
sujeito muito bacana. Espero que ele consiga chegar lá com a moto dele. Ele não
larga aquela moto por nada.
Estou ficando com
sono e está ficando tarde. É, É, eu sei que eu não preciso seguir regras em um
mundo em que elas não existem mais, mas esse tipo de coisa me ajuda a manter a
sanidade. Não pretendo quebrar essa regra tão cedo quanto eu quebrei a de
escolher nomes.
Falando em nomes,
essa é uma coisa bem legal. Liberdade pra escolher nomes. Eu estava pensando no
nome do bebê. Se for uma menina, vamos chamá-la de Sarah Connor. Se for um
menino, o nome vai ser Marty McFly.
Boa noite.