quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Canto Sombrio, Canto Sombrio

As lâmpadas estavam apagadas. Ayla não se lembrava se as tinha apagado deliberadamente ou se elas tinham queimado. Só sabia que estava escuro. Ela também não se lembrava há quanto tempo estava ali. 15 minutos ou alguns milênios? A moça estava imersa na escuridão e também na desorganização. Havia objetos variados ao redor do canto onde ela estava sentada. Ninguém entraria ou passaria por perto daquele quarto. Disso ela tinha certeza.
Há sempre algo constrangedor que
Ayla decidira se sentar ali para ter tranquilidade. Não estava triste, mas não estava alegre. Simplesmente estava. Estava e queria ouvir o silêncio. A sensação de paz que o silêncio causava era tão prazerosa como olhar através de lentes de óculos recém-lavados. O problema é que o silêncio era falso. A garota ouvia os próprios pensamentos. Ouvia tudo. Ouvia até mesmo o que gostaria de esquecer. Memórias constrangedoras pisavam nos pés das memórias bonitas e agradáveis, como se a mente de Ayla fosse uma aula de dança para selvagens.
Você repete mentalmente em situações desagradáveis
O emaranhado de pensamentos surgira como um ruído ensurdecedor.
Para se lembrar que poderia ser pior
Apesar de não se lembrar de quanto tempo havia passado sentada no canto escuro, Ayla lembrava que o tempo passava. E conforme o tempo passava, ela foi organizando os pensamentos. Os pensamentos não eram mais todos selvagens. Os constrangedores eram exemplos a não se seguir. Os bonitos e felizes, exemplos a serem seguidos. Ayla percebeu o que deveria ter feito de diferente em cada momento de sua vida para que não tivesse sentido a necessidade de se esconder em um canto escuro. A dor de saber que não poderia mudar o passado atingia até sua alma, porém era esclarecedora. O ruído ensurdecedor já tinha se tornado uma música. Uma música de melodia estranha e letra doentia. Mas não era mais um ruído. Era como uma música que se tem vergonha de gostar, mas se escuta quando se está sozinho.
Mano para de ouvir screamo
O esclarecimento não deixou Ayla alegre, mas também não a deixou triste. Sabia, agora, que em algum momento iria se levantar e sair do quarto escuro para poder cometer menos erros e acertar mais. Só não sabia exatamente quando. Provavelmente, quando a música se tornasse silêncio.
Esperança faz bem, viu